Voyeurismos sobre os ritmos da sensibilidade erótica
Des-Velo a Rosa da atávica Dor e a escondo em outro Horror!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

! E eu, a mulher dentro de tudo isso, sinto isso.













Sou como uma caçadora que não quer matar, mas quero sentir o ferimento. O que espero? Ser tomada pelo desejo do outro e nele me banhar. Arder, Mas fico sempre decepcionada. Ninguém consegue me possuir. É como se estivessem todos cegos, circulando em torno de mim.
Eu me aqueço e então me dou conta de que a corrente não passa através de mim. É como se eu fosse uma espécie de ídolo. Sempre sonho com isto: me vejo de pé, muito rígida, e estou coberta de joias e roupas luxuosas. Estou coroada. Você acha que um dia me tornarei uma mulher?
Quero ser despedaçada. No entanto, ao mesmo tempo sei que faço tudo para criar uma impossibilidade de acesso a mim. Uso roupas estranhas que as pessoas estranham. E aí as odeio por não serem capazes de me alcançar. Eu sei que eu crio lenda. É difícil de explicar, mas tenho, de fato, a sensação de que venho de muito longe.
 Enquanto durmo sei que muitas coisas acontecem. Não lembro de todas, mas não acordo perto das coisas. É por isso que às vezes quando entro numa sala não olho para as pessoas como sendo da minha própria raça. É verdade que sinto que elas me olham e veem essa personagem distante. Converso com elas e escolho o assunto mais remoto com relação à vida cotidiana. Sinto-me compelida a fazer isso, ao mesmo tempo em que quero calor e simplicidade. Sinto-me só. Às vezes, eles são acometidos de uma loucura furiosa para me violentar, para me agarrar.  Mas é como que um desejo por um objeto tabu, um templo sagrado, ou uma pessoa proibida. Pelo que é intocável. E eu, a mulher dentro de tudo isso, sinto isso. Sinto que criei essa personagem e que estou sentada do lado de fora dela, lamentando porque eles estão cultivando uma espécie de imagem e não chegam com mãos simples, quentes, e me tocam.



*Anais Nin*

In

"A Voz"



Simone de Beauvoir










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